quarta-feira, 14 de março de 2018

memórias

tava desocupando potes na cozinha e criando diversas histórias na minha imaginação. todas elas sobre alguém que esquecia alguma palavra. uma vez um cara estava estudando espanhol e não lembrava o nome de uma folhagem usada pra fazer salada verde no seu idioma materno. ficou por horas conversando com amigos, tentando explicar como era a planta pra ver se alguém lembrava, até que lhe saiu "lechuga". dois dias depois, passou numa feira onde estava escrito num tabuleiro: "não aperte as frutas" e lembrou o nome da folhagem. uma estudante de direito teve algo semelhante após a leitura da legislação específica de uma determinada área e acabou esquecendo do nome do vidro frontal do carro. como não havia meios de pesquisa instantânea na época, a estudante não conseguiu completar a linha do raciocínio de tanto esforço mental pra encontrar a palavra. passaram semanas e ela preparava o almoço. lhe veio à mente a palavra "taciturno", que havia lido num romance clássico, ou num poema do cânone e imaginou que seria a palavra que estava sendo esquecida por outra pessoa em algum lugar. até comigo aconteceu um esquecimento. ao lavar a louça, imaginava uma narrativa em que alguém trabalhava numa funerária. acabei esquecendo o nome do processo em que se tampa todos os orifícios de um corpo para ajudar a não vazar as secreções decorrentes da decomposição. mas o interessante é que ao esquecer das palavras, as pessoas eram obrigadas a construir os conceitos e pensar na utilidade das coisas, assim como nos seus formatos e características. percebi que as perdas de memória podem ser úteis. mas nessa história toda, ficou um pote cheio de inúteis listas de compras

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