sábado, 31 de outubro de 2020

embora tenha lutado bravamente, a dignidade foi assassinada por um punhal que lhe foi cravado na garganta e veio de vagarinho cortando até chegar o esterno, onde foi usada uma furadeira pra brocar, buraco a buraco, cada pedacinho do osso, até que o punhal pudesse seguir seu destino, mas sem antes atacar o estômago. a dignidade, enquanto agonizava, perdia seu estômago. o corte seguiu em direção à genitália e de forma fria e calculada estraçalhou o órgão. tudo isso aconteceu na madrugada, enquanto se ouvia bem longe um aparelho de som tocar a música oração, da banda mais bonita da cidade. o coração evidentemente não foi poupado. nem o globo ocular já seco, nem os pulmões. da vítima só sobrou a obsessão em fazer ressuscitar durante o eterno velório. aqui jaz a dignidade.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

O PESO

 aqui jaz o peso e a mácula trazido e deixada pelo tornado que passa a cada período em que viver não é escolha ou possibilidade. paixão cíclica é mistério dos mais estranhos e clássicos, tanto quanto o translado da alegria em culpa e os pensamentos mais nocivos em epifanias. o traço rude deixado na terra arada pelo tornado é um sulco seco onde poderia brotar um córrego cercado de pães de forma e geleia de amendoim, embora sempre fique aquela sensação de que o ciclo reiniciou e que logo ali adiante no tempo a tempestade retorna, cada vez mais intensa e cada vez mais desafiadora. os sulcos vão tornando-se rugas numa face. aos poucos a terra cansa e de mácula em mácula jaz um peso cada vez maior.

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