terça-feira, 20 de março de 2018

a língua é laica

a oração do sujeito é um tanto indefinida. parece que o sujeito pede uma coisa, mas também dá a impressão de que precisa de outra. talvez seja as duas ao mesmo tempo, ou nenhuma. é um desejo direto e uma necessidade indireta, embora o jogo de palavras seja confuso. mas o sujeito tá ali, necessitando de algo que o complemente que lhe atribua um sentido, até que ele se perceba objeto

segunda-feira, 19 de março de 2018

o primeiro voo

ladeira a cima toquei o vento e ele resolveu ajudar. foi aí que aprendi a voar, não como os porcos floydianos, nem como os pássaros do clichê, mas como personagens do cinema hollywoodiano, como se fios invisíveis me suspendessem. então consegui enxergar o que não estava ao meu alcance: o topo, a vegetação, a ladeira que tem do outro lado, mais um punhado de visões poéticas. era como se sobrevoasse um poema do Alencar ou uma obra renascentista. pedi pra pousar no planalto e me largaram delicadamente no cume da tua cama.

quarta-feira, 14 de março de 2018

memórias

tava desocupando potes na cozinha e criando diversas histórias na minha imaginação. todas elas sobre alguém que esquecia alguma palavra. uma vez um cara estava estudando espanhol e não lembrava o nome de uma folhagem usada pra fazer salada verde no seu idioma materno. ficou por horas conversando com amigos, tentando explicar como era a planta pra ver se alguém lembrava, até que lhe saiu "lechuga". dois dias depois, passou numa feira onde estava escrito num tabuleiro: "não aperte as frutas" e lembrou o nome da folhagem. uma estudante de direito teve algo semelhante após a leitura da legislação específica de uma determinada área e acabou esquecendo do nome do vidro frontal do carro. como não havia meios de pesquisa instantânea na época, a estudante não conseguiu completar a linha do raciocínio de tanto esforço mental pra encontrar a palavra. passaram semanas e ela preparava o almoço. lhe veio à mente a palavra "taciturno", que havia lido num romance clássico, ou num poema do cânone e imaginou que seria a palavra que estava sendo esquecida por outra pessoa em algum lugar. até comigo aconteceu um esquecimento. ao lavar a louça, imaginava uma narrativa em que alguém trabalhava numa funerária. acabei esquecendo o nome do processo em que se tampa todos os orifícios de um corpo para ajudar a não vazar as secreções decorrentes da decomposição. mas o interessante é que ao esquecer das palavras, as pessoas eram obrigadas a construir os conceitos e pensar na utilidade das coisas, assim como nos seus formatos e características. percebi que as perdas de memória podem ser úteis. mas nessa história toda, ficou um pote cheio de inúteis listas de compras

quarta-feira, 7 de março de 2018

certa feita, pela primeira e única vez na minha vida, disse pra alguém que eu costumo sempre mentir. desde então, minha vida virou problema de lógica: se eu menti naquela ocasião, então, significa que eu sempre digo a verdade, logo, haveria eu mentido uma vez; caso eu tivesse dito a verdade, que eu realmente costumo sempre mentir, o problema seria semelhante, pois eu costumaria mentir, mas na ocasião em que falei que costumo sempre mentir, eu falei a verdade. mas a lógica está aí para ser desafiada, embora ela sempre derrote o desafiante
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