segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


Engasgo com tua voz
extrema imersão desesperada
com doze tons que organizam a bagunça
no meu pensamento atonal

atual, como a poesia morta
pelos sons que nasceram organizados
os doze irmãos
vão e voltam, verso e inverso

e a matemática
que multiplica
divide
e subverte

irmãos subversivos
que me engasgam com tua voz
atual, como poesia morta
que subverte

os sons que nasceram organizados
extrema imersão desesperada
divide
a matemática

vão e voltam, verso e inverso
no meu pensamento atonal
que multiplica
os doze irmãos

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

carta aberta para os poucos ainda livres

alegando insanidade, vou-me retirando de fininho. saio de cena por um jogo de sena. venci na vida e perdi no tempo. portanto, não sou um vencedor, tampouco perdedor é um adjetivo que me compete. aliás, não compito. sou um mero artista passando por um breve momento de insensatez. não sei se há vazio na minha bagunça interna ou se há bagunça no meu vazio. prefiro-me retirado a permanecer fingido, prefiro a dolorosa experiência de levar um soco no estômago do que a prazeirosa felicidade de presente que se ausenta pela mão do carrasco. aliás, prefiro o carrasco que bate no peito e se autoproclama ao que executa dizendo que o matador é o que está com o pescoço enrolado na corda. sou insano? não, não sou. estou. a bem da verdade, insensato e insano. o raciocínio lógico me leva a pensar que são opostas, mas insensatez e insanidade convivem. geralmente nos felizes. algumas vezes nos distraídos. quase sempre nos injustiçados. mas vou-me retirando de fininho. insano e insensato. pra que nunca mais aconteça. pra que ninguém mais nos esqueça. nunca mais quero competir. nunca mais quero metade.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

o saco, vazio, foi parar no pé. o sacro vazio não para em pés descalços. a seco, a soco, quem trabalha foi parar no vazio da lona. os dentes arrancados, o chão molhado e uma senhorinha sorridente do lado de fora vibrava. gritavam que saco de pancada vazio não cai longe do pé. foi então que o estômago que já roncava há tempos deu seu rugido e chamou pelos demais. e todos os estômagos foram levantar a voz contra aquele juiz impetuoso que se julgava o guardião das batatas. e foi assim, num golpe só, que a justiça foi feita. o julgador teve a cabeça cortada e exposta na entrada do vilarejo, pra que sempre seja lembrada a força que tem uma multidão de estômagos. e o vazio do sacro acabou abarrotado de sentidos, lógicas, compreensões e iluminação.

domingo, 27 de outubro de 2019

já são horas
acorda, meu bem
olha o café
deixa comigo
o cheiro do pão quente

já são horas
acorda, vagabundo
come o pão
amassado pelo demo
vai que é tua
cheiro de suor e lágrima

acorda
acorda
acorda
quem tem mais
e quem não tem mais
acorda
acorda
acorda

sábado, 12 de outubro de 2019

a selva bruta

lateja o talo já enrijecido
- enjoa joana -
fluídos que escorrem
pra fora e pra dentro
- enjoa, joana, enjoa -

a flor se abre
- escorre o néctar -
o pêssego partido ao meio
- lá vem o suco -

a seiva bruta vai à fruta
é a selva bruta 
o beija-flor chega à flor
e uma folha rosada do trevo
traga as sobras da seiva

sexta-feira, 1 de março de 2019

jogo de castas mascadas

há muito ciclo sem reciclo
sem pino
vertino

vertido e sorvido
capacho
capaz

a canalhice reposta
sem pano
vertendo

e

a resposta aos canalhas
capricha
replica

atinge em cheio

direto
derruba

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

salve malandragem

revela, cara, revela! distrai o osso, impede o vício e levanta. faz o que tem de ser feito e abre a janela pra respirar. troca a lâmpada queimada e inverte os papeis com o cobrador. dá um pinote e sai. vai visitar a mãe, leva o cachorro e bota o agasalho. não te deixa envelhecer, muito menos envilecer! escuta a mensagem que vem do tambor, que um zé deve ser tratado como o Zé e esteja certo de que o teu zé interior vai te levar pra cima. olha pro lado e repara que tem gente aí junto. e não guarde segredos. revela tudo! revela, cara!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

parasitas humanoides

por debaixo do cadafalso existe um riso sinistro de quem só está ali pra devorar fígados humanos. curiosamente, tem a mesma índole de quem está sobre outro patíbulo: é mentiroso, mas acusa o enforcado de falsidade; tem personalidade sádica e sente tesão em ver algum diferente sofrer até a morte; só tem amor pela autobajulação e entra em gozo profundo cada vez que percebe a caça a algum adversário. quando acoado por notarem que faz o que acusa nos outros, se esconde. mas no fundo sabe que seu tempo como devorador de fígado é muito curto e teme já ir preso logo que todos perceberem a quantidade de merda que carrega consigo, o quanto é feito de restos, de sobras e de sombras. deixará um rastro de podridão e um punhado de pares que também não resistirão ao próprio instinto destrutivo.
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