quarta-feira, 29 de junho de 2016

vídeo para leitores

vídeo em plano-sequência:
trilha sonora: Pitágoras, d'Os Mutantes
plano geral
um homem negro de idade avançada está sentado num banco de praça, com a câmera posicionada às costas.
câmera se movimenta em travelling em direção ao homem, enquadrando-o com o banco, parando por alguns instantes para mover-se e posicionar-se em diagonal, quando retoma a aproximação até chegar ao enquadramento entre o quadril e a cabeça do homem, onde nota-se que está com olhar perdido em direção ao chão, como se olhasse sem ver os tornozelos das pessoas que passam no outro lado do passeio.
a câmera vai se afastando lentamente até retomar o plano geral, mas agora frontal ao homem. segue em movimento lateral, como se a praça estivesse em movimento, até chegar ao corpo de uma mulher negra, jovem, seminua, deitada no gramado em posição fetal. a imagem para na mulher por um tempo menor do que parou no homem e segue um pouco mais, até passar o final da praça, atravessar a rua e para para focar um prédio histórico em plano geral.
novo travelling e a imagem vai aproximando do prédio, onde destaca-se uma pixação: "essa matemática não nos serve"
a imagem vai escurecendo em fade-out.

terça-feira, 28 de junho de 2016

as fissuras da arte

colado com silvertape está a rotina, especialmente quando ela vem com o peso de um suspiro contínuo e cristaliza os líquidos que guardarão os quadros expostos no museu e têm fissuras capazes de derrubar as estruturas. nada é fragilidade além do mito, a não ser o próprio mito. além de frágil e fissurada, a estrutura que já foi líquida, foi cristalizada e agora é enjambrada, será um dia um punhado de confusões e confissões. e no fundo, no fundo, toda obra de arte é meio mausoléu e meio maternidade: somos mortos falando com outros mortos! e tudo, absolutamente tudo está colado com silvertape.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

improviso para quintana

escrevo a seco, sem pensar ou revisar
e chovo no molhado
é um inferno isso!
uma prisão de temas e estilos
que não se mancam
e que não se mandam

por isso, ao procurar renovar as coisas
venho nessa de não revisar
o máximo que sai e um erro ortográfico
uma escrita confusa

ainda assim, não me conformo
e escrevo a seco
mesmo chovendo no molhado
porque se vive a seco
escrevendo o que já tá escrito
- bebendo o que todos bebem
e comendo o que todos comem,
gritando como um possesso numa partida de futebol
e desconfiando que a minha alma seja mesmo dessa prisão
desse inferno!

domingo, 26 de junho de 2016

Decreto

Decreto editado na origem do ser humano, que pra alguns é na Gênesis e pra outros a explicação exata ainda causa questionamentos:
Eu, decididor eterno, fixo e inquestionável, independente do que as ciências vierem a descobrir e comprovar publicamente no futuro, decreto:
Cap. I. Quando a voz e a posição é do oprimido, estamos tratando de pregação ideológica;
Cap. II. Do contrário, quando estamos tentando abafar a voz do oprimido com ideias que datarem de séculos anteriores, estamos tratando de como as coisas são, sempre foram e sempre deverão ser, quer os marxistas queiram, quer não;
§ 1º. Ao contrário do que venha a comprovar a linguística sobre a modificação de sentido dos termos através dos tempos, a grafia e o significado primeiro da expressão é a que deve valer, por questão de decisão divina;
§ 2º. Nenhum esquerdista marxista terá autoridade de questionar o teor deste decreto. Quando tentar fazê-lo, deverá ser condenado a receber críticas de maneira superficial, sem citação a obras, nem indicações de leituras de forma objetiva.
Cap. III. Nenhuma fonte de citação poderá ser mais válida do que a seguinte expressão: "Basta uma procura no google..." que pode ser substituída a qualquer excerto retirado da página da wikipedia sobre o assunto.
Cap. IV. Fica proibida a existência de qualquer dúvida. Quem problematizar quaisquer temas abordados neste decreto será condenado ao tratamento dado aos marxistas, conforme o § 2º do Cap. II.
Este decreto entra em vigor na data de sua publicação, ficando quaisquer disposições contrárias futuras previamente revogadas.

sábado, 25 de junho de 2016

um vídeo


numa festa, uma tomada em plano geral
corta para uma tomada em que há duas pessoas conversando, sendo que a imagem está enquadrada somente no peito das personagens, sem mostrar os rostos
ambos guardam um do outro a distância de um palmo
durante alguns instantes, têm-se a impressão de que ambos irão se abraçar
mas depois de alguns segundos, afastam-se
som de tiro
ambos se encontram e se abraçam
ambos caem
a imagem escurece lentamente em fade-out

sexta-feira, 24 de junho de 2016

manifesto pelo estabelecimento do caos

tudo podemos nessa vida que nos é posta. absolutamente tudo. o único inconveniente é a falta de habilidade que temos pra lidar com as possibilidades e relacioná-las às vontades. fora isso, nada é impossível ou inviável. e é sempre bom lembrar que a vontade nos libertará. só a vontade é capaz de demonstrar o caminho que nos retirará da ordem, do amor frustrante e do progresso opressor. nada mais glorificante, mais libertador e mais motivador do que o amor febril e o caos interior. reprimi-los é tornar as pessoas menores. libertemo-nos pelas vontades! a força está nas vontades!

um louco e seus inúmeros

já me disseste certa feita
que eu estava endoidecendo
querendo essas coisas que não se deve querer
fugindo do mundo
fugindo de todo mundo
e eu acreditei
como acredito até hoje

só porque eu perco o controle
remonto
desmonto
e quebro
só porque ocupo
radicalizo
e caio da cama

e a cada dezesseis, eu preciso vinte
a cada figura, eu quero doce
a cada doze eu quero um

só porque eu estou mesmo endoidecendo
já faz tempo que fujo
e acredito
perco o controle
perco os doze e os doces
e como um pixel de cada vez



quarta-feira, 22 de junho de 2016

poema ridículo, sem filtro e sem revisão

fingidor é o caralho, Fernando!
gosto muito do que escreves e concordo com muitas coisas
- como a tua ideia fingida sobre as cartas de amor
mas fingidor é o caralho!
me vejo poeta e não consigo falar da dor que não sinto,
senão da que sinto
tanto que não finjo ser outro, ou outros,
sou eu, eu mesmo
Alexandre Antonio
quem escreve sobre a língua suja de poeira
de labirintos de onde não consigo sair
de poesia
de arte
de museus e de livros

nisso, sou mais próximo ao Glauco
que é o cego que se vê
que não finge
que tem nome artístico, mas que é ele mesmo

sou mais chegado ao Sá-Carneiro
que não fingia
e que mostrou isso ao final das contas

mas ainda assim
concordo com as cartas de amor
que fingiste ser de outro
a ideia de serem ridículas
assim como este poema

terça-feira, 21 de junho de 2016

sobre os desejos de liberdade

lambi o chão noite passada. tinha algo me incomodando bastante na língua e eu não encontrei outra forma de tirar. então, procurei um lugar bem debaixo do tapete da sala, levantei a beirada e dei aquela lambida com gosto. claro que o gosto é horrível, que fica aquele pó nojento grudando na língua, mas ao mesmo tempo a sensação do alívio, do inusitado e até um sabor de redenção faz com que valha a pena. óbvio que precisei lavar bem a boca depois, escovar e escovar dentes e língua, mas a possibilidade de fazer o que a maioria das pessoas acha deprimente, de fazer o que quase todo mundo considera motivo de internação, e de dizer "na minha língua mando eu!" é bem mais importante do que as convenções sobre quem deve, pode ou não lamber o que bem entende. já lambi umbigos, pescoços, queixos, coxas, nádegas, entranhas e o que bem quis nessa vida, tudo com delicioso prazer, mas o chão da sala de casa é a primeira vez que o faço. não, não estou comparando. o corpo de uma pessoa é algo límpido, belo, saudável e só apresenta algo de positivo e prazeiroso. por exemplo: jamais eu tiraria algo que me incomoda na língua passando-a numa coxa, num quadril, num ventre. portanto, a motivação é outra, mas o movimento é semelhante. já o chão da sala é outra coisa. aliás, é coisa. e lamber coisas pode me fazer livre!

domingo, 19 de junho de 2016

dos labirintos e processos

não sei por que, mas tenho minha imaginação tem me apresentado a imagem de um labirinto, daqueles que vão se fechando a cada vez que a gente avança. lembrei de um sonho que tive certa feita. estava naqueles labirintos de ciprestes, bem no centro dele. à medida em que eu encontrava um meio de avançar em direção à saída, as paredes iam se movendo de forma que me deixavam no centro novamente. eu andava, andava, passava por várias passagens e os ciprestes também andavam e fechavam de maneira que o desenho em minha volta ficava idêntico ao do início. parecia metáfora. parecia que isso tentava me avisar de algo, mas não entendo bem. e eu tinha a sensação de que precisava muito sair dali porque havia algo fascinante do lado de fora e ali dentro eu não teria nada mais do que já havia vivenciado. não sei, mas tenho a impressão de que era uma metáfora para o meu tempo. talvez fosse uma metáfora pra minha dificuldade em mudar de direção, mas não sei ao certo. ou talvez as metáforas sejam muito explícitas pra o que eu experimentei no sonho. mas lembro de algo inusitado também: num determinado momento, tentei andar pra trás, como quem não quisesse sair do labirinto, e me deparei com um espelho. todo trincado, ele me revelava um outro de mim, só que muito envelhecido, com a mesma roupa, os mesmos calos, o mesmo nariz e a mesma insegurança no olhar. seria bem melhor se não tivesse olhado nesse espelho. ou o melhor foi realmente ter me visto, porque depois disso, ganhei motivação pra sair do labirinto. na verdade, fiquei com muita vontade de atear fogo no labirinto e sair logo, mas já o estava considerando como meu espaço. e era estranho o gostar dali, mas precisar e querer sair sem nunca mais voltar. mas no fim das contas, tenho certeza de que tem algo de muito melhor do lado de fora, embora o caminho e a tentativa também caia muito bem.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

fórmula para fazer avançar a humanidade

existem mistérios bobos, aos quais a gente perde tempo em não tentar desvendá-los, porque nos faria um bem gigantesco. seria algo que nos elevaria a um outro patamar de humanidade. veja bem, quando eu digo mistérios bobos, me refiro a coisas que a gente não se importa em não saber, ou até não quer saber, ou ainda faz questão de não saber, mas que são tão básicos, tão elementares, que nos faz uma falta tremenda tê-los desvendado. não sei se estou me fazendo entender, mas é isso. acho que essa é uma das grandes verdades. grande não, das imensuráveis verdades. daquelas verdades que beiram o absoluto. precisamos desvendar os mistérios bobos. precisamos da procura pela solução dos mistérios bobos. só assim a humanidade conseguirá tornar-se uma outra civilização.

revolução la tente

um litro de querosene
um frasco de perfume
duas partes de água turva
meia dúzia de sabores

meia garrafa de veio
uma folha e meia de arlequin
mais uma gota de parnasio
colher à colher um pouco de meu

um cali-se de atenuantes
e meia hora de fuga
separa tudo
em banho frio
centrifuga, enxuga
e guarda
e guarda
e guarda
e guarda
sentido!

mas deixa o querosene pronto
próximo ao perfume
pra caso o fogo-maria se agite

segunda-feira, 13 de junho de 2016

ode à lisergia febril

não lamento a nossa febre, pois é ela que nos faz ver melhor. veja bem, não estou dizendo que gosto de estar molesto e que prefiro que estejas com as mesmas dores, mas sim que essas dores e essa moléstia toda deverá nos queimar coisas internas e tornar nosso interior mais leve, com o ar quente. é por isso que venho te convidando tanto para pisarmos descalços no chão úmido e pra pular no mundo ou correr até o suor escorrer e depois um banho frio, ou o vento frio. não lamento nossa febre por isso. também quero ver até onde vai. até onde a temperatura elevada dos nossos corpos nos deixará sóbreos e quando começaremos a viver o transe, do qual gostamos tanto. é a febre que vem pra nos curar e nos fazer viver! mas não só a febre. o calafrio que aproxima a gente, os cuidados que recebemos dos olhos alheios, atentos aos nossos movimentos, mas com a maravilhosa condição de não nos culpar pela febre, não nos julgar por termos andado descalços, nem pelo nosso suor e o frio.

um inverno interior

volta volta volta
roda
e sai

aprenda logo
caia da cama

pesa
e cai
e cai e cai e cai


sono profundo
frio intenso
dorme tranquila

volta volta volta
cobre
e respira fundo
está tudo em paz
ou deveria

e tudo pesa

domingo, 12 de junho de 2016

ensaio sobre os pés descalços

viu que a porteira está aberta? então, vamos! não perde tempo, menina! vem comigo! vamos aproveitar e derrubar o que tem atrás, o resto a gente vê depois. precisamos disso, precisamos passar pra lá e experimentar o campo verdinho, sair desses pedregulhos que machucam nossos pés descalços. vem comigo! pense que amanhã, de manhã, a felicidade vai desabar sobre nós! vem! eu tô indo e queria que viesse junto! é um convite! vem? vem logo! isso! vamos passear por ali e ver o que acontece, já que por onde andamos até agora a gente sabe que é tudo limitado! vamos romper com isso! do outro lado, pode ser que os limites nem existam ou sejam inalcançaveis pra nós! já pensou que maravilha? vamos correr por tudo, pisar na grama, pular no lago, dormir na sombra! talvez até tenha mais gente como nós que precise de mais gente como nós! vamos? vem junto! aqui, do meu lado! vem?

sábado, 11 de junho de 2016

à luta

leve
me leve
me eleve
e levo
elevo
tudo comigo
tudo contigo
e nós como um só
em dança
em canto e coxia
afestemos os fantasmas
e esses sonhos
sejamos um só
vamos?

sexta-feira, 10 de junho de 2016

tudo pronto até o tranco

meus poemas estão prontos pra serem ditos
embora não digam nada do que eu queria
e sejam meros amontoados de palavras sem sentido
mas são meus e eu gosto deles desse jeito

assim sendo, assumo o fardo que me foi dado
de ser obrigado a carregar esse absurdo todo
de ter uma quantidade robusta de coisas representadas
precisando da desordem na qual faço questão de deixá-las

tomei um impulso e fui bloqueado
quando queria botar tudo no papel
senti um tranco
como quando a gente é amarrado a uma corda e corre até esticá-la num tirão só
e esse tranco
esse tirão de corda esticada
confundiram ainda mais
e levaram a excência de tudo embora
embora tenha percebido certa ordem

mas os poemas estão prontos
basta a desordem comandar os movimentos
e lá vão as palavras ao vento
ao papel
à tela do computador
após a corda ser roída pelo lado mais fraco

confissional em processo

confesso
minhas rimas são postas a fórceps
e vou ficando mais habilidoso com os equipamentos nesse meio tempo
costumo juntar tudo que não se ajusta
numa coisa só
é minha mania de querer colar uma maçã numa nuvem
mas fica divertido, porque acabo passeando bastante enquanto isso
avião pra lá e pra cá
e fumaça branca nos olhos

não havia pensado

Antes de começar a contar a história que envolve este post, preciso falar uma coisa. Tô tentando ler o roteiro da minha vida, mas cada vez me sinto mais analfabeto. Não sei se as coisas estão mal escritas ou se eu não entendo o contexto e onde a coisa toda vai chegar, se é que vai chegar. É muito confuso. Parece uma cena de Monty Python, mas com bem menos humor e sentido. As linhas tortas e cheias de pontas duplas me complicam e enredam cada vez mais as coisas pra mim. Pra dar uma ideia, estou tentando tomar um copo dágua, mas tenho a impressão de que quero mesmo é comer uma salada de batata. Só que o que se me apresenta é uma barra de manteiga que se derrete ao contato com os meus dedos. É estranho isso. No fim, o que desejava, recebo. Tenho tentado até mudar de assunto, pular páginas, voltar as cenas, apagar frases e expressões, mas cada vez mais eu mergulho numa leitura que não faz sentido algum. E o que é mais curioso: está me dando um enorme prazer! Tenho vivenciado o prazer de saber que eu não tô entendendo nada do que tá acontecendo, do que já aconteceu e do que poderá até jamais acontecer. Sim! É delicioso se sentir analfabeto! A gente não tem compromisso com nada! Por exemplo: se eu for analfabeto, não terei compromisso de seguir o roteiro que tenho em mãos agora. Posso não reescrevê-lo, nem compreendê-lo, mas posso solenemente ignorá-lo. Concorda? Pois bem, sinto-me prazeirosamente analfabeto! Outro exemplo: a gente pega um grupo de pessoas e bota numa sala. Pede pra que essas pessoas imaginem um assassinato que não envolvesse legítima defesa, mas que envolvesse as emoções do assassino. Pede pra que cada uma delas escreva num papel, sem deixar que os outros vejam, qual punição deveria ser aplicada ao assassino e que entreguem a resposta escrita. Na sequência, pede pra essas pessoas comentarem suas respostas aos demais, porém, isso só poderá ocorrer quando elas receberem, por escrito e em sigilo, o nome do assassino (onde, por pura diversão, constaria que cada pessoa fosse o assassino da sua história). Imaginemos se a punição que cada um previsse por escrito seria a mesma que houvesse comentado após saber da autoria do crime. Eu, particularmente, prefiro ignorar essas coisas, mas a leitura do roteiro da minha vida tem me deixado curioso pra saber como eu agiria num momento como esses. E é o mesmo caso da água.
Tudo muito estranho e incomunicável.
Mas deixemos a digressão de lado e vamos à história. E como já comentei algumas coisas no parágrafo anterior, vou narrar tudo de uma forma muito breve:
Estou brigado com o destino porque ele só me bota num caminho interessante depois que eu já o escolhi. E acho que já disse tudo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

conserto com cetro


não tô
tava
tando

fui
fuímos
vuelvo
y me voy

leve
pluna
lleva
y rellena

pesa
pisa
quebra
e
vinga

das doses de ficção diárias

já são quatro e desperto
vinte minutos depois, só sonho acordado

tento

não vai

coração acelera

adormeço para o dia
saio para o trabalho
ônibus
carona
sou quase atropelado

acordo numa vitrine colorida
com uma imagem que me incomoda
volto a dormir

ando mais
sonâmbulo que sou
uma sequência de sons desordenados me desperta mais uma vez
fico tentando entender o que isso significa
até a irritação me levar de volta ao onírico

já me perdi nas horas
- durante o sono, perdemos a noção

no caminho de volta, sonho com histórias
- contadas, vividas, vistas por mim

já na cama, desperto
já são quatro e desperto
aguardo vinte, cinquenta, duas
e volto a adormecer para o dia

sábado, 4 de junho de 2016

Cena do amor clandestino de um lunático por Liberdade

não sou nem sombra do que gostaria
pois a carne não satisfaz mais
e falta luz

já não há espaço para respirar
porém, há olhos para julgar
e há olhos para serem lidos

tudo acordado
todos de acordo
todos acordados, então

respira
respira
respira

transmuta, explode, eclode
e volto a ser o que és

voamos, pois
já que só nos resta a fuga
atravessar a fronteira
virar sombra

quinta-feira, 2 de junho de 2016

A arte morreu, graças a deu

agora temos o sonho, a sufocação da vida e o ar rarefeito da virtude
Os museus escondem a beleza para mostrar sujeita e pornografia
diabolismo penetrante
sexualidade em carvão sobre tela
formas geométricas violadoras
agora temos o torpor, a dispineia desvirtuada e a incomunicabilidade

bolhas de sabão
tudo girando, girando, girando
tontura e cheiro de tinta
fumaça branca
incomunicabilidade e morte
a morte veio de marte - nomina-se um vídeo nonsense

e nomes que confundem a gente branca:
afro? indígena? oriental? árabe? outro? que outro?
como assim, outro?
mulheres que dão e que não dão
e isso não interessa a mais ninguém
tudo girando, girando, girando
coisas gigantes

e a arte, a bela e genial arte, jaz no cemitério de arquitetura neoclá,
no torpor da dispineia que impede a comunicação
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