segunda-feira, 27 de março de 2017

a distopia (ou a desesperança)

era a era de balizar o basilar, mas sem o registro régio, ainda que parecesse pleonástico. mas tá, não vou encher esse texto de frases de efeito ou aliterações imprestáveis, só pra deixar ele bonitinho. trato do período em que precisávamos botar as tremas na linguística, mas sem precisar das atas. nada de conformidades e regimentalismos fanáticos. tudo precisava ser rediscutido. mas a língua padrão era insuficiente, então, passamos a discutir tudo através da estética do curto e grosso. chegamos a um consenso: estávamos fodidos e a merda era tão grande que precisávamos falar muito tempo e desabafar bastante, ainda que fossem coisas sem sentido aparente. estávamos fodidos, porque a arte popularizada vinha empacotada, cheia de metáforas desnecessárias, ou através de clichês, que mais pareciam chicletes mascados. a merda era tão grande porque aqueles que pretendiam mudar as coisas gostavam mais do próprio discurso do que o que ele significava. costumavam citar grandes pensadores, mas na hora de botar a citação em ação, tudo era "na prática, a teoria é outra". uma bosta! cada um queria receber o seu quinhão de amor, mas os mesmos cada um não queriam ser os doadores desse amor. queríamos que só os outros fossem honestos. então, discutimos e chegamos ao consenso, como falei. todos concordaram que do jeito que estava não dava mais pra ficar. decidimos mudar tudo. estávamos todos de acordo que deveria ocorrer a mudança. fizemos virar lei, que jamais foi cumprida.

sexta-feira, 24 de março de 2017

dê um rolê nos laboratórios

o laboratório era pra estar cheio de amor. claro, me refiro aos laboratórios das ciências naturais. mas ali só se encontra assepsia e método. tudo no devido lugar, organizado e burocrático. nada de risos, abraços e declarações sentimentais. a ciência tenta afastar-se do coração, por alguma razão que o próprio coração desconhece. deveriam tocar novos baianos dentro de todos os laboratórios! novos baianos e raça negra. assim, poderíamos ter esperança de que, um dia, as descobertas nos dissessem mais respeito e nos fizessem mais sentido!

sábado, 18 de março de 2017

retorno

para M. H., que me botou de pé
e quem quero botar de pé também
que provavelmente irá, mas que tenho certeza de que voltará
pra encher uma mesa comigo


não falta amor: faltam coisas que permitam o amor. falta que o mundo permita. falta que a brutalidade do asfalto permita o nascimento da flor. falta meu rock'n'roll no teu tecno. falta eu com minha guitarra no teu sampler. falta meu thc no teu lsd. falta nosso sexo sem limites e sem restrições. falta o teu "fico encabulada" no meu "te acho maravilhosa!". falta a gente se encontrar novamente. falta independência. falta ar. quando os olhos batem e um beijo entre a bochecha e o canto da boca...
falta nosso banho de ervas
falta a gente junto
falta provar que gêmeos e câncer dá certo, sim!
falta o teu francês no meu espanhol
me fazes falta
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